Quando começar a ser você mesma?

A influência da família sobre quem somos

ana carolina xavier (montagem de fotos)

Vou dividir com você o conhecimento que obtive na minha formação em Terapia Sistêmica Familiar e a forma como aprendi a olhar para o indivíduo.

Primeiro: você nasce da barriga da mãe

Literalmente e, no melhor dos mundos, emocionalmente também.
A mãe tem suas próprias expectativas com a chegada dessa criança (expectativas sobre o nascimento são um tema muito interessante, que podemos conversar em outra hora). São nove meses gerando um sonho que, muitas vezes, pode ter sido alimentado por uma vida inteira.
Naquele momento, a criança é só dela, entrelaçada com fios invisíveis de muitas histórias geracionais que certamente influenciarão essa nova vida.

Segundo: você nasce da barriga da família

A mãe, ainda tão unida ao filho como se fossem uma só pessoa, é a figura de autoridade que apresenta o bebê à família, como se dissesse:
— “Ela não é só minha, ela é nossa.”

Assim, o bebê passa a pertencer não apenas à mãe, mas também à família — emocionalmente.

Terceiro: você nasce para o mundo

A partir do outro conhecemos quem somos. Não somos uma folha em branco e nossa história não começa a partir da nossa gestação. Ela é tecida em fios de gerações!

Quando você nasceu, a tia já não falava direito com a irmã, o avô já tinha falido e sua mãe já estava com problemas com a mãe dela. Você se encontra imerso em narrativas das quais não teve um papel ativo em sua ocorrência, sendo ao mesmo tempo influenciado e exercendo influência também.

Os retalhos da história da sua família afetam a maneira como seus pais o percebem, educam e orientam em direção ao amadurecimento necessário para que você possa abrir a porta e entrar no mundo. Ao me referir ao mundo, falo sobre desenvolver-se na área profissional, conquistar independência emocional, financeira e preparar-se para a vida a dois.

É um movimento harmonioso entre pais e filhos: o jovem adulto mostra aos pais que possui as qualidades necessárias para iniciar sua jornada pessoal, enquanto os pais tranquilizam os filhos, concedendo-lhes liberdade sem exigir vínculos emocionais dependentes.

Voltando à pergunta inicial

É durante a adolescência que você começa a moldar seu senso de identidade e a reafirmar o sentimento de pertencimento. Nesse período, os pais devem atuar como uma voz unificada de orientação, que complementará as influências dos amigos. Ao ouvir ambas as perspectivas, o adolescente construirá sua própria voz, confirmará seus valores e tomará decisões que visam o futuro, como a escolha da profissão, entre outras.

O adolescente escolhe, mas é o jovem adulto quem realiza. Pesquisas em neurociências mostram que a região do cérebro responsável pela moderação dos comportamentos, pela tomada de decisões racionais e pelo planejamento só atinge plena maturidade por volta dos 25 anos (Casey, Getz & Galvan, 2008).

Portanto, é na fase jovem que você vai sentir mais quem realmente é — tanto pela maturação cerebral atingida, quanto pela caminhada de autoconhecimento e pela diferenciação do que é seu e do que pertence à sua família.

Começar a ser você mesma não significa se afastar da sua família, mas sim desenvolver a capacidade de se diferenciar. É reconhecer de onde você veio, quais histórias te moldaram, e ainda assim escolher o seu próprio caminho. Esse movimento exige coragem, amadurecimento e consciência. E, quando acontece, é como abrir a porta e finalmente respirar o ar do mundo sendo quem você realmente é.

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